sexta-feira, julho 16, 2010

1985 - Rua Orlândia, 875 - Ribeirão Preto

Texto escrito pela minha irmã já há alguns anos, retrata muito bem a saudável nostalgia que cultivamos entre nossa família. Infelizmente seu extinto blog, o TNKSVERYMUSHA já deixou de enriquecer a rede mundial, mas vale aqui suas lindas palavras:



postado por Musha em TKSVERYMUSHA - 2 anos atrás


Que delícia lembrar do passado.
Hoje me lembrei logo pela manhã de quando tínhamos, na casa de Ribeirão Preto, uma estante feita de tijolo (aquele alaranjado) e em cima deles, uma tábua, depois mais uns três tijolos e outra tábua... e era uma estante dinâmica! Minha mãe podia aumentar ou diminuir a altura de uma prateleira para outra com facilidade.
A verdade é que era uma casa simples, mas cheia de amor. Uma vida de luta dos meus pais para criar duas filhas de 4, 5 anos enquanto eles tinham 22. Eram jovens demais, mas se amavam muito e isso nos muito fazia feliz.
Eles não tinham defeitos. Eram perfeitos e heróis.... e eram de fato aos nossos olhos de crianças.
Nunca, em momento algum nos abandonaram para fazer um passeio. Estávamos sempre juntos... Éramos sempre nós quatro. Eles não faziam a menor questão de ficarem sozinhos, mas continuavam sendo como namorados e não escondiam os beijos apaixonados.
Colocar a TV no quintal de casa para assistir Show do Jô (na década de 80), espalhados pelos colchões no chão. Nós quatro juntos, era motivo de alegria. Não havia nada melhor do que aquilo. Não havia outro lugar que fosse melhor do que aquele.
A piscina de plástico que minha mãe montava no fundo de casa... e servia coquetel dentro do abacaxi pela janela da cozinha... néctar dos Deuses. Era uma casa de paredes descascadas, mas era melhor do que estar em um Resort na
Suíça.
As músicas da Gal, da Rosana ou da Tetê inspiravam minha mãe, enquanto fazia faxina na casa... antes de nos acordar com “Bom dia Flor do Dia!” todos os dias.
Os passeios de carro, sem parada em restaurantes (para economizar) eram momentos incríveis. Víamos casas enormes e achávamos que eram castelos. Víamos aviões pousando e nos emocionávamos... As coisas eram maiores!
O colírio que nós escondíamos na estande da sala para encenar o choro enquanto escutávamos “Meu cãozinho Xuxu”... risos... ai ai... Isso nos mantinha ocupadas.
Me lembro do biquíni amarelo e pequeno que a minha mãe, aos vinte e poucos anos, usava para tomar sol a tarde na varanda de casa.... num gramado cercado por um muro alto. Como ela podia ser tão linda!? Consigo vê-la ainda sentada lá.
O meu pai que nos levava de moto até a escolinha. Divertida escola! Cid de Oliveira Leite era o nome. Tinha uma árvore no parquinho cheia de pequenas borboletas. Uma vez tentei levar uma de presente para minha mãe... dentro da mão, mas quando cheguei em casa, ela tinha morrido. Me lembro que minha mãe colocava sempre as florzinhas que recebia em copos americanos de água.... e lá ficavam até morrer. Eram florzinhas pragas que nasciam no meio da rua, mas eles nos faziam nos sentir importantes! Aquela florzinha era cuidada com o mesmo carinho que nos davam.
A calçada de casa era de quadrados de cimento cercados de grama que aparávamos em conjunto com uma grande tesoura de jardim. Duas na verdade, uma amarela e uma de cabo vermelho.
“Diaxo!” e “Gozado” eram expressões a vó sempre usava ao telefone, quando ligava para saber se estava tudo bem.
Arroz com catchup, massa de coxinha, arroz com vinagre, mexido de sobras do almoço era o nosso banquete! Não tinha restaurante nenhum que batesse aquela comida que minha mãe fazia.
Tivemos tudo o que as crianças querem. Apesar das dificuldades, meus pais nos davam patins, barbies, bicicletas, relógios... eram sempre simples, mas para a gente, não existia marca, nem preço. Era o que era... e era o mais bonito que podia existir. Não queríamos outro e não trocaríamos por outro. Ganhar os presentes era sempre uma surpresa. Colocaram os relógios no nosso braço a noite, enquanto dormíamos... os dois juntos. Quando acordamos, lá estava a surpresa presa nos nossos bracinhos... e eles ansiosos para que acordássemos.
No dia do meu aniversário, mamãe não perdia a hora de ligar a Xuxa às 8:30 da manhã para eu ouvir: “Parabéns, hoje é o seu dia que dia mais feliz!”
Nunca deixamos de ter um bolo no aniversário. Nunca deixamos de ter um beijo de boa noite ou um “Durma com Deus”. Nunca ficaram contra nós e a favor de ninguém. Nunca deixaram de perguntar como foi o dia na escola. Nunca deixaram de ir numa reunião de pais... faziam questão!
Boas lembranças da infância que tive... éramos nós quatro. Éramos mais amigos do que pais e filhos. Nos divertíamos e conversávamos como amigos. Nunca nos trataram como se não soubéssemos das coisas por sermos crianças. Éramos um grupo. Como eu sou feliz por cada detalhe do que tivemos... por ter tido uma vida tão simples que me fazia achar que uma casa de 4 quartos era um castelo.... mas que em castelo nenhum haveria de ter dias tão divertidos como os nossos. Só faltava uma coisa... um menino. Quem diria que teríamos o melhor deles!? O Bruno chegou em 1989, quando nossa história continuou em Presidente Prudente.... aí, éramos cinco imbatíveis amigos.


Um comentário:

  1. Que lindo o texto Bruno!
    Eu adorei!
    Saudades bonito!
    beijo grande!

    http://viivabeleza.blogspot.com

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